quarta-feira

Calvário

Continuava preso ao passado.

           Continuava preso a ela, não sabia o porquê, mesmo passado tanto tempo do fim daquilo que ele acreditava existir. Nunca se conformou do fim que aquilo levou, ou da forma como tudo aquilo, antes jurado como eterno, tão cedo terminara.

Culpe a juventude e o ímpeto que a encarna no imediatismo de seus desejos e na impulsividade de seus atos. Culpe a distância, física somente, para ele, que os separava. Mas não o culpe do fim que aquilo teve mesmo ele tendo sempre se culpado por tudo o que aconteceu. Ela, garota de sorriso fácil e cabelos claros, é quem fora culpada da mágoa ainda guardada dentro dele. O fim, ele nunca realmente entendeu como se deu, só sabia que tinha sido dado, e sem seu consentimento.

Mas não desejava esquecê-la, muito pelo o contrário. Guardou o quanto pôde as cartas que trocaram que, infelizmente, no ímpeto que o rancor despertara certa noite, foram perdidas para sempre. Jamais se esquecerá do perfume que as cartas possuíam, que o faziam, volta e meia, resgatá-las do fundo da gaveta de documentos. Não possuía mais perfume, fato este que não parecia fazê-lo se importar, mas acreditava poder sentir sempre que as tocava. E relia as cartas quando sentia saudades, textos com sentimentalismo ímpar, característica essa que ele sempre buscara em outrem.

Mas aprendeu, no entanto, bastante com o fim disso tudo. Deixou de acreditar nos outros e nunca voltou a acreditar em si mesmo. Pobre coitado, jogado à míngua, deixado ao léu, era agora digno de pena. Mereceu tudo isso, aprendeu da pior forma o revés de entregar-se numa relação. Passou a procurá-la em outras pessoas.

Hoje lamenta-se do tempo perdido com esse amor, mas não desse amor perdido no tempo.

Um comentário:

Anônimo disse...

"(...) pois você sumiu no mundo sem me avisar, e agora eu era um louco a perguntar o que é que a vida vai fazer de mim." (João e Maria - Chico Buarque)