Caminhava há horas.
Não tinha destino nem motivo para estar naquela caminhada, no entanto continuava a andar. Era um dia nublado igual muitos outros, ventava e sentia arrepiar-se a cada uivo do vento. Sentiu o asfalto áspero raspar nas ranhuras da palma do pé; sentiu os pedregulhos se alojarem por entre os dedos; sentiu a grama roçar em seu calcanhar; e por fim sentiu a areia.
Chegara à praia.
Era uma quarta feira qualquer de Outubro, a quarta feira mais nublada de todas as quartas feiras. Continuou a caminhar pela praia, desta vez o uivo do vento tinha companhia do barulho do mar que o acompanhavam pelo trajeto sem final aparente. Por fim, parou e sentou num monte seco de areia para poder observar o mar.
A linha do horizonte confundia-se com o céu nublado e o mar acinzentado. Olhava o mar e afogava-se nos próprios pensamentos; sufocava-se com a tristeza que carregara até àquela praia. Observava o mar que mostrava-se revolto, como de ressaca, lugar onde ninguém desejaria estar ou sequer suportar, exceto ele. Encontrava-se sozinho e perdia-se nos pensamentos. Um misto de culpa e arrependimento misturava-se a cada onda que o mar lançava à praia e que depois recolhia para lançar novamente outra onda e outra e outra. Despejou através das lágrimas tudo o que o oprimia nas ondas que o mar fazia questão de recolher. Sofria calado, olhando à sua volta, mas não encontrava ninguém.
Por fim esvaiu-se de todos os pensamentos e ficou durante horas observando o mar que se aproximava cada vez mais até finalmente tocar seus pés. Mar acinzentado, revolto e ao mesmo tempo tão belo.
Percebeu que olhava para dentro de si mesmo; afogava-se no mar de tristezas que carregava dentro do peito.
Sentia-se sozinho e estava com frio.