quarta-feira

Quimera

Para ele, era perfeita.

Achou ter descoberto a garota ideal para ele, ou talvez para muitos outros, mas de qualquer forma para ele também. Admirava os textos que ela redigia, mesmo com alguns erros de português e de concordância verbal, mas ele não parecia se importar muito com isso. Ele também cometia muitos desses deslizes com a língua.

Passou o último feriado pensando nela, em o que dizer, em o que fazer, de que forma falar. No final, não disse nada, muito menos fez alguma coisa. Torturava-se pela insegurança, pelo julgamento prévio que ela poderia fazer dele, e com freqüência se menosprezava. Mas ele sempre cultivou esses amores impossíveis. Impossíveis para ele, afirmava para os amigos, mas realmente gostava disso. Esse amor seria perfeito enquanto vivesse em seu imaginário, inspirador e sofrível. Expurgava de si tudo aquilo que desejava em outrem, toda uma construção de opiniões e vontades na garota que nunca chegou a conhecer realmente.

E isso o inspirava a escrever aqueles já manjados textos sentimentalistas que não agregam nada, mas de qualquer forma inspiração é inspiração. Precisava de alguma coisa o motivasse que não fosse o trabalho que odeia ou a falsidade das pessoas que conhece.

Este, assim como os outros que já cultivou, se extinguirá muito em breve. Mas ele não parecia se importar, só gostaria de sentir aquilo novamente. O fazia se sentir, de certa forma, mais vivo, vivendo aquilo que retrata Eça de Queiroz na obra Primo Basílio:

 “(...) entrava enfim numa existência superiormente interessante (...)”.

2 comentários:

ctrl freak disse...

não sei se é ficção ou desabafo. se ficção é lindo e factivel, se desabafo te ofereço um para-quedas.

Com o tempo todos esses "quases" e "que lindo poderia ter sido" sufocam e amarguram a alma. Então se jogue, sempre haverá um paraquedas ou ao menos, uma cama elástica no chão pra te jogar pra cima de novo.

de alguém já ficando cansada de "quases"

p.s.: favor ignorar se não fizer o menor sentido

ctrl freak disse...

resposta de quem nunca caiu: o maldito "e se..." é pior que qualquer joelho ralado.

Embora não pratique (sou covarde de nascimento) incentivo que todas as existências superiormente interessantes se tornem existências de fato, com toque, troca de olhares e frases muito bem ditas. Friso no bem ditas, pois de indiretas os "quases" estão repletos

=]